Agora pouco me tomou um baita sentimento choroso, lembranças da companheira lá dos idos da graduação, moradora da Maré, estudiosa, pesquisadora, guerreira, e recordei do momento que soube de seu assassinato, numa van, na altura de Penha logo apôs ligar o celular depois de 10 dias sem tocar no aparelho voltando de um retiro Vipassana.
E este meu sentimento choroso, não é pela impunidade, raiva ou vontade que os mandantes deste crime sejam punidos criminalmente.
Meu choro é pela pureza e ingenuidade da amiga que partiu.
Não que a tenha como uma santa ou esteja falando do símbolo poderoso de luta que se transformou. É bonito demais e conforta o quanto sua memória tem sido honrada. Meu choro é pela escolha e caminho que Marielle escolheu. De se jogar ao mar e lutar com tubarões. De afrontar castas criminosas do jogo do poder.
Estou aqui, quase três da manhã, olhando para mim mesmo, para a conjuntura e realidade política e observando como venho acompanhando, lendo estes jogos sujos com suas artimanhas, e atentando-me ao tamanho do desperdício de energia e saúde que me presto ao me colocar, e muito costumeiramente, comentando, debatendo, conversando sobre essas questões.
Amigos, gente que gosto, admiro, que tenho pouco contato, gente honesta, batalhadora, simples, artistas, doidonas e doidões, ativistas, ingênuos, sinceramente: este jogo não é nosso.
Não fomos convidados a participar e por sorte, que bom que não fomos.
Salvo uns poucos que ainda resistem e representam o legado de Marielle e que tentam nos representar em meio aos tubarões nas instâncias do poder, fora estes, da verdadeira politica, o Estado brasileiro foi perdido, o modos operandis das instituições, os representantes, o judiciário, o STF, o militarismo, decretaram o fim da política no país. Por sinal políticos, juristas e militares possuem algo muito em comum aqui no Brasil: são castas estamentais regadas a privilégios diferenciados e desmedidos que vão desde a gratificacões das mais absurdas, imorais e vergonhosas a aposentadorias diferenciadas e serviços exclusivos classistas.
Nada de novo.
Você ainda espera que este mau caratismo, essa sem vergonhice privilegiada nos representem? Alguma vez já viu uma luta destes senhores para acabar com seus próprios privilêgios? Você acredita que políticos, juízes e militares incapazes de debater os seus próprios privilégios imorais possuem condições mínimas para julgar, legislar, lhes representar? Desculpe! Mas em que planeta você vive?
É uma tristeza que deixamos essa pouca vergonha impune, normalizada.
Que um debate pelo fim dos privilégios não seja uma questão para o brasileiro.
Pior que seja um tabu tocar nestes assuntos dado o nível de normatização da pouca vergonha legitimada.
Que os politicos, juízes e desembargadores não sejam perguntados diariamente pelos cidadãos, ao entrar nos prédios, ao falar em audiências, não sejam perguntados basicamente se acham seus privilégios morais ou justos.
Que não pressionamos o legislativo e não enfrentemos os privilégios dos militares, suas pensoes hereditárias e eternas.
E é triste perceber com certa clareza, que sequer há projeto algum para o Brasil.
A política tornou-se palco de selvageria e jogos de poder dominada por adolescentes que mais parecem fazer das vidas humanas seus joguinhos de videogame. Velhos brancos misóginos, representantes da ignorância e da intolerância religiosa e sexual, todos legislando por interesses que não servem ao bem comum e aos cidadãos. Brincando com o brasileiro como quem brinca com bonecos.
Agora e creio não estar só, e sinto-me um tonto em meio a essas desgraceiras.
É estranhíssimo falar o que vou dizer. É pessoal, mas como muitos podem estar vivendo o mesmo sentimento, e por desejar acolher quem se encontra conectado comigo nessa midia como amigo, quero dizer o que estou aqui falando para mim mesmo:
Esqueçam a política. Esqueçam esses políticos, lava jato, STF, militares, vamos parar de alimentar esses crápulas com nossa atenção, com nossa energia.
Paremos de ler e assistir jornais que só nos informam a pouca vergonha destes senhores, homens velhos brancos e misóginos e suas velhas e decadentes decisões, seus presentes de Tróia, seus shows midiáticos, suas caras falsas em revistas, jornais e vídeos do youtube, facebook e whatsaap e seus fuzis, acordos e assinaturas sentenciando pobres, pretos e índios .
Deixem-os se matar entre si.
Por quê vão. Porquê estão fazendo isso e muito bem.
Vamos abandonar a ilusão que nos oferecem. Nunca nos representaram e nunca nos representarão.
Deixem de olhar estes senhores como ricos e poderosos, observem melhor, olhem para estes espíritos, são miseráveis e deploráveis.
Fiquemos fortes para resistir e cocriar maneiras de viver com nossa dignidade, com nosso trabalho, com nossa alegria e se preciso, se reinventando, partindo de cidade, de país, compartilhando mais, tendo mais solidariedade, fortalecendo os que estão em mais dificuldades ou vulneráveis. Pois os pacotes e toda sorte de maldades virão, as violências tendem a aprofundar, a miséria destes governantes tende a refletir socialmente, e neste momento me parece um percurso inevitável.
Sejamos fortes. Há muito trabalho e vida para viver.
Rodrigo Verly
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